TAEKWONDO (태권도 )
Uma arte construída. Um símbolo reinventado. Uma história que precisa ser compreendida.
O Taekwondo é, sem dúvida, a arte marcial coreana mais conhecida do mundo.
Mas sua fama carrega uma origem que raramente é contada com profundidade — ou com coragem.
Mas sua fama carrega uma origem que raramente é contada com profundidade — ou com coragem.
Sua criação não foi resultado de uma linhagem milenar ininterrupta.
Foi o fruto de um contexto político tenso, de um país devastado e de uma cultura em reconstrução.
Foi o fruto de um contexto político tenso, de um país devastado e de uma cultura em reconstrução.
Durante cinquenta anos, entre 1895 e 1945, a Coreia esteve sob ocupação estrangeira. Primeiro, sob "domínio" chinês. Depois, sob controle brutal do Japão imperial — que impôs à força sua língua, sua educação, seus costumes.
As culturas regionais foram sistematicamente apagadas.
O idioma coreano foi proibido em ambientes públicos. As tradições marciais foram perseguidas.
Apenas as artes japonesas como Judô, Kendô e Karatê eram autorizadas.
Foi um período chamado por muitos historiadores de “Regime do Terror” — e ele não apenas feriu o corpo da Coreia, mas tentou silenciar sua alma.
As culturas regionais foram sistematicamente apagadas.
O idioma coreano foi proibido em ambientes públicos. As tradições marciais foram perseguidas.
Apenas as artes japonesas como Judô, Kendô e Karatê eram autorizadas.
Foi um período chamado por muitos historiadores de “Regime do Terror” — e ele não apenas feriu o corpo da Coreia, mas tentou silenciar sua alma.
Ao final da Segunda Guerra Mundial, o Japão se retirou.
E o que ficou foi um vazio profundo — cultural, simbólico, identitário.
Nesse terreno fraturado, nasceu a necessidade de reconstruir símbolos nacionais, e as artes marciais se tornaram uma das ferramentas mais poderosas desse esforço.
E o que ficou foi um vazio profundo — cultural, simbólico, identitário.
Nesse terreno fraturado, nasceu a necessidade de reconstruir símbolos nacionais, e as artes marciais se tornaram uma das ferramentas mais poderosas desse esforço.
Diversas escolas coreanas surgiram a partir do Karatê japonês. Mas rapidamente passaram a traduzir suas expressões para a fonética coreana — mantendo os mesmos logogramas sino-japoneses, agora lidos em Hanja:
唐手道 → Tangsudo (당수도)
空手道 → Kongsudo (공수도)
Ainda assim, era pouco.
Era preciso romper não só com o som e a escrita, mas com o imaginário.
Era preciso romper não só com o som e a escrita, mas com o imaginário.
Foi então que nasceu a expressão Taekwondo (태권도).
Uma nova identidade — cuidadosamente construída.
Uma nova identidade — cuidadosamente construída.
태 (Tae): termo nativo que representa o ato de chutar ou pisar com força. Quando escrito como 跆 (em Hanja), evoca o gesto de ataque com os pés. A fonética escolhida também remetia estrategicamente ao Taekkyeon (택견)— uma prática folclórica tradicional, convocada ali como símbolo ancestral.
권 (Kwon): de 拳, significa punho, soco, combate manual.
도 (Do): 道 — o caminho, a conduta, a filosofia.
Essa combinação oferecia exatamente o que o momento pedia:
um nome forte, simbólico, distinto — e estrategicamente nacionalista.
Agora, a arte dizia-se nascida da terra. E não mais das mãos de Tang (唐手), nem do vazio (空手).
um nome forte, simbólico, distinto — e estrategicamente nacionalista.
Agora, a arte dizia-se nascida da terra. E não mais das mãos de Tang (唐手), nem do vazio (空手).
Era o “caminho dos pés e dos punhos” — com discurso, estrutura e grafia próprios!
O Estado coreano acolheu e promoveu essa criação.
Instituições foram fundadas. Técnicas padronizadas.
O Kukkiwon tornou-se o centro da arte. E o mundo recebeu o Taekwondo como novo embaixador da cultura coreana.
Instituições foram fundadas. Técnicas padronizadas.
O Kukkiwon tornou-se o centro da arte. E o mundo recebeu o Taekwondo como novo embaixador da cultura coreana.
Mas toda construção política cobra um preço.
O afastamento das raízes técnicas, a esportivização acelerada, a simplificação filosófica — tudo isso distanciou o Taekwondo de seu potencial como arte marcial plena.
O afastamento das raízes técnicas, a esportivização acelerada, a simplificação filosófica — tudo isso distanciou o Taekwondo de seu potencial como arte marcial plena.
No MUSULDO, o Taekwondo é respeitado como parte fundamental da história coreana — mas também é observado com lucidez.
Estudamos sua origem, sua trajetória e seu contexto.
Buscamos o que ele tem de mais valioso — e também reconhecemos o que perdeu pelo caminho.
Buscamos o que ele tem de mais valioso — e também reconhecemos o que perdeu pelo caminho.
Porque uma arte só se fortalece quando reconhece sua própria construção.
E a verdade — dita com clareza, profundidade e respeito — também é uma forma de legado!
E a verdade — dita com clareza, profundidade e respeito — também é uma forma de legado!